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Tex Avery: o gênio maluco que reinventou os desenhos animados

lobo olhando para chapeuzinho vermelho com os olhos arregalados

Se você cresceu assistindo a Pernalonga, Patolino, Droopy ou rindo de um lobo enlouquecido por uma dançarina de cabaré, talvez não saiba que há um nome por trás de praticamente todas essas cenas inesquecíveis: Tex Avery.

Um artista tão criativo quanto ousado, responsável por transformar o humor animado em uma forma de arte — e, ao mesmo tempo, em uma completa loucura controlada. Mais do que um desenhista, Avery foi um arquiteto da comédia visual. Ele redefiniu o que um desenho animado poderia ser, inspirando gerações de artistas e deixando um legado que continua vivo até hoje.

Quem foi Tex Avery

2-1024x576 Tex Avery: o gênio maluco que reinventou os desenhos animados

O nome completo dele era Frederick Bean Avery, nascido em 26 de fevereiro de 1908, em Taylor, Texas (EUA). Desde cedo, Tex demonstrava um talento incomum para o humor e o desenho.

Depois de estudar artes e trabalhar como ilustrador, ingressou na Warner Bros. no início dos anos 1930 — e o mundo da animação nunca mais seria o mesmo.

Foi em meio a prazos curtos e orçamentos limitados que ele desenvolveu seu estilo característico: piadas rápidas, exageros absurdos e personagens autoconfiantes que pareciam saber que estavam dentro de um desenho animado. Tex Avery quebrou a quarta parede décadas antes de isso se tornar moda.

A revolução no humor animado

Antes de Tex Avery, as animações seguiam um padrão previsível: histórias fofas, personagens carismáticos e um ritmo lento, quase musical. Avery subverteu tudo isso.

Ele introduziu ritmo frenético, absurdos visuais e autocrítica. Seus personagens se esticavam, explodiam, mudavam de forma e voltavam ao normal como se nada tivesse acontecido.

“No mundo do desenho animado, tudo é possível — e quanto mais impossível, mais engraçado.”

Essa filosofia moldou o que hoje conhecemos como comédia de animação moderna. Sem ele, provavelmente Pernalonga nunca teria dito “O que é que há, velhinho?”, e Patolino não seria o pato explosivo e imprevisível que conhecemos.

Warner Bros. e o nascimento do humor maluco

Nos estúdios Warner Bros., Tex Avery trabalhou ao lado de nomes como Bob Clampett, Chuck Jones e Friz Freleng, criando os primeiros curtas da série Looney Tunes e Merrie Melodies.

Foi ali que Avery ajudou a definir o tom irreverente da marca — um contraste direto com o estilo mais “certinho” da Disney.

Em 1940, Tex dirigiu o curta A Wild Hare, que apresentou oficialmente Pernalonga ao mundo. E foi nesse episódio que o coelho soltou pela primeira vez o bordão “What’s up, doc?” — uma expressão típica do Texas que Avery trouxe de sua infância. O resto é história: Pernalonga virou o símbolo máximo do humor debochado e da sagacidade animada.

A era MGM e o auge da criatividade

Após deixar a Warner, Tex Avery foi para os estúdios MGM, onde teve liberdade total para criar. E foi ali que nasceram alguns de seus personagens mais icônicos e ousados:

  • Droopy – o cachorro de expressão apática que sempre surpreendia os vilões;
  • Red Hot Riding Hood – uma versão adulta e provocante de Chapeuzinho Vermelho;
  • Screwy Squirrel – o esquilo enlouquecido e imprevisível;
  • O Lobo – famoso por suas reações exageradas, olhos saltando e corações batendo descontroladamente.

Nessa fase, Avery explorou ao máximo o humor visual e a metalinguagem. Seus personagens conversavam com o público, questionavam a lógica do roteiro e zombavam das convenções dos desenhos animados.

O estilo Tex Avery: loucura com propósito

O que diferenciava Tex Avery de todos os outros era o ritmo. Ele acreditava que cada segundo de animação deveria servir a uma piada, a um impacto visual ou a uma reação inesperada.

Seu estilo ficou conhecido como “timing Avery” — cortes rápidos, pausas precisas e exageros perfeitamente cronometrados. Nada era por acaso — mesmo o caos tinha estrutura. E é justamente isso que tornou seu humor tão duradouro: o timing perfeito entre o absurdo e o engenhoso.

Curiosidades que mostram o gênio (e a loucura) de Tex Avery

  1. Ele odiava repetir piadas. Cada curta tinha que ser original — ele dizia que o público merecia sempre algo novo.
  2. Foi ele quem criou o “What’s up, doc?” (O que é que há, velhinho?) Pernalonga só usa essa frase porque Tex a trouxe de seu vocabulário texano.
  3. Muitos curtas foram censurados. Algumas animações da MGM, como Red Hot Riding Hood, foram consideradas “adultas demais” para crianças.
  4. Ele influenciou toda a indústria. Criadores de Tom e Jerry, Pica-Pau e até Os Simpsons já citaram Tex Avery como inspiração.
  5. Droopy era seu personagem favorito. Apesar do sucesso do Lobo, Avery dizia que Droopy representava o humor que ele mais gostava — seco e inteligente.
  6. A Pixar o homenageou. O dono do autódromo “Dinoco” em Carros se chama Tex Dinoco, uma referência ao animador texano.

O legado que moldou gerações

A influência de Tex Avery vai muito além de sua época. Ele inspirou o humor de Animaniacs, Tiny Toon Adventures, Ren & Stimpy, Family Guy e inúmeros outros programas que herdaram sua mistura de ironia, exagero e nonsense.

Além disso, muitos conceitos técnicos que ele criou — como o uso de deformações extremas e expressões caricatas — se tornaram base do ensino moderno de animação. Se hoje os personagens animados parecem vivos e imprevisíveis, muito disso vem de Avery.

O homem por trás do riso

Tex Avery era conhecido por ser tímido e perfeccionista, o oposto do caos que criava na tela. Colegas diziam que ele passava horas ajustando expressões e tempos de reação dos personagens, sempre buscando o riso mais espontâneo possível.

Infelizmente, Tex faleceu em 26 de agosto de 1980, aos 72 anos. Mas seu impacto foi tão grande que continua influenciando até os estúdios modernos da Warner e da Disney.

O mestre do impossível

Tex Avery não apenas fez as pessoas rirem — ele ensinou o mundo a rir de forma diferente. Transformou o exagero em poesia e o absurdo em linguagem universal. Seu trabalho continua vivo em cada animação que desafia a lógica e em cada piada que quebra a quarta parede.

Porque, no fim, Tex Avery foi o verdadeiro “deus do humor animado” — aquele que mostrou que, nos desenhos, tudo é possível… e quanto mais impossível, mais divertido.

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